quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

HOMO PAPYRUS (conto)

Estão ambos. Sem saber quem diante de quem. Um: animal, mamífero, racional (nem sempre), homo sapiens. Outro: vegetal (?), artificial, potencial, papyrus.

Um diante do outro. Des-Construindo-sed. Ruínas de si. Monumentos de outrem. Vão se re-velando por debaixo de um gigante véu entre mundos. Uma fronteira fina. Frágil. Quase invisível. Às vezes. Perceptível. Apenas sob o balbuciar do externo.

Nem sempre suficiente como é. Pode sufocar. Peso mítico. Antecessores. Algozes de outrem. Pode faltar também. Puxa-se de um lado. Puxa-se de outro. Alguma coisa acaba ficando de fora. E isso perturba. Reviram-se estrelas no céu noturno. Sóis cruzam o dia. E continua impassível. Mudo ante o próprio falatório. Inflexível perante o grande show de contorcionismo dentro (e fora) da sua estrutura interna. É esse um véu tecido de letras malabaristas. Todo um alfabeto circense. Que faz da leitura, picadeiro. Do leitor, palhaço (gracinhas à parte). Geram-se, assim, mais e mais palavras. Mágica. Mundos são compostos. Tão diversos. Tão frágeis. Tão reais. E, por mais que este véu seja perseguido, a mais fina brisa pode levantá-lo e com o mais terrível tornado, nem se arrepiar.

Enquanto seus olhos o perseguem de fora para dentro (de dentro para fora) as letras vão deslizando pela página. Cobrem a superfície fina do papel quase por completo. Falta pouco. Faz o mesmo movimento linear. Indo. Até o fim. E
voltando. A cada frase. Da esquerda para direita. Num compasso orquestrado quase que somente por uma respiração vaga. Distante. Aludindo ao fato de existir ainda um mundo além do descrito na página branca. Mas não repara nisso. Está compenetrado para saber como vão terminar as linhas. Elas se seguem em Courier New 13, espaçamento 1.5. Ainda não nota para onde está sendo levado. Até que vai se deparar com a última inscrição na folha. Quase no fim. Poucas linhas de terminar.


Pende da folha, à parte, ovelha desgarrada, idéia fragmentada, depois de :



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